Salvar as Gigantes Verdes
A INICIATIVA NASCEU EM 2018, EM LOUSADA
As árvores são fundamentais para a existência de um ecossistema equilibrado, garantindo, por exemplo, a produção de oxigénio e a absorção de dióxido de carbono. Mas há árvores que desempenham um papel mais substancial do que outras por serem de grande porte. A Associação VERDE ajuda a salvá- -las da extinção.
Mário Costa
Devido à capacidade que têm de armazenar mais carbono e de equilibrar os ecossistemas existentes, a conservação das grandes árvores é o foco do projeto Gigantes Verdes, um projeto da Associação VERDE, nascida na vila de Lousada, na região do Tâmega e Sousa, no distrito do Porto.
Mas o que é uma Gigante Verde? «É um termo que nós usamos para classificar árvores de grande porte, que têm uma dimensão mínima de 1,5 m de perímetro de tronco, medido à altura do peito. Ou seja, mais ou menos a 1,30 m do solo. Nós costumamos dizer, a brincar, que há uma forma fácil de medir: é uma árvore que, em média, uma pessoa adulta não consegue abraçar.» A explicação é de João Gonçalo Soutinho, biólogo e presidente da Associação VERDE.
Mas se todas as árvores são importantes para a preservação do meio ambiente e a biodiversidade, por que razão nos devemos preocupar em particular com as árvores de grande porte da floresta nativa portuguesa? A resposta está no facto de albergarem inúmeros habitats de espécies ameaçadas e serem vitais na mitigação dos efeitos das alterações climáticas, uma vez que absorvem grandes quantidades de carbono. E o interesse de João Gonçalo Soutinho por estas árvores começou pelo estudo de um escaravelho: «Este interesse também vem do nosso background técnico. Eu sou biólogo e tenho estudado árvores e a vida associada às árvores. E apaixonei-me por estas árvores grandes por causa de um escaravelho em particular, o vaca-loura, que é o maior que temos em Portugal. Comecei a estudar o vaca-loura durante a licenciatura, tive até um projeto a nível nacional de mapeamento deste escaravelho. E comecei a perceber que estes escaravelhos só existem nas árvores muito grandes, nos carvalhos muito grandes que são cada vez mais raros», refere às Selecções do Reader’s Digest.
A paixão e o interesse levaram João Gonçalo Soutinho a meter mãos à obra e a ir para o terreno à procura das árvores de grande porte em Lousada, onde reside, para as inventariar e tentar proteger. «Em 2018 comecei este projeto, as Gigantes Verdes, no município de Lousada, com uma candidatura que apresentei, para tentar conhecer onde é que elas se encontram, o que lhes acontecia e o quanto eram importantes para a biodiversidade. A literatura existente diz que, e o nosso trabalho confirma isso, quanto maiores as árvores forem, e também mais antigas, maiores são os serviços de ecossistema que elas oferecem. Serviços, neste caso, são os benefícios que nós, humanos, tiramos da natureza, seja na produção de oxigénio, seja o dióxido de carbono que retiram da atmosfera ou até o habitat que proporcionam a muitos seres vivos. Quanto maiores forem mais folhas têm, e por isso fazem mais fotossíntese. Mas também por terem uma dimensão maior têm mais história, mais tempo por cá, e foram acumulando aquilo a que chamamos micro-habitats – são ramos mortos, cavidades, feridas na casca, plantas que estão a crescer na própria árvore – que permitem que vários tipos de seres vivos as utilizem para fazerem os seus ciclos de vida completamente naturais», explica à nossa revista.
Mas se é verdade que quanto maiores e mais velhas forem mais valor têm para tudo isto, também é verdade que têm mais madeira, o que as torna apetecíveis para serem abatidas e usadas para diversos fins. Daí a importância da sua preservação. Só em Lousada, onde o projeto teve início, é estimada a perda de 2% destas árvores anualmente, principalmente por ações que as valorizam mais quando são cortadas, como a urbanização, intensificação agrícola ou a extração de recursos florestais.
Por outro lado, saber a localização destas árvores e fazer o seu inventário exaustivo não significa que estão protegidas ou deixem de estar ameaçadas. «O objetivo do projeto é saber onde estas árvores estão, pensar em ideias para as valorizar e proteger junto da população. Mas dizer que existe uma Gigante Verde num sítio não significa que esteja protegida. Só sabemos que existe. E nós não sabemos onde estão todas estas árvores a nível nacional. Sabemos de algumas, as chamadas árvores de interesse público, que são muito, muito grandes, e que mesmo assim vão desaparecendo aos poucos», lamenta João Gonçalo Soutinho.
A iniciativa de mapear e tentar proteger as Gigantes Verdes nasceu em 2018 e passou a ser coordenada pela Associação VERDE desde 2021, tendo recebido um prémio de 100 mil euros do Programa EDP Energia Solidária, reconhecendo assim a importância do projeto. Com este apoio, a Associação VERDE ganhou fôlego para expandir o seu trabalho, apostando na formação de jovens, técnicos municipais, naturalistas e amantes da natureza para mapear e caraterizar Gigantes Verdes e assim valorizar o património natural.
O projeto começou em Lousada, onde já foram identificadas cerca de 7400 árvores – em todo o vale do Tâmega e Sousa –, mas depressa se estendeu a mais dez municípios: Penafiel, Paredes, Valongo, Gondomar, Lousada, Felgueiras, Paços de Ferreira, Seia, Manteigas, Fornos de Algodres e Sabugal, abrangendo assim as serras do Porto e localidades pioneiras no distrito da Guarda.
«O projeto começou de forma individual em 2018, em Lousada, e durante a pandemia percebemos que muitas destas árvores estavam a desaparecer e começámos a pensar em formas de as proteger, não só do ponto de vista administrativo, com leis ou normas, mas envolvendo a comunidade, criando valor. Criámos a Associação VERDE com um conjunto de dinâmicas e projetos que não ficassem presos a ciclos políticos nem tivessem os vícios habituais da relação do poder local com as populações. Queríamos uma coisa nova. E começámos a fazer vários projetos em Lousada, até que no ano passado decidimos expandir porque muitas pessoas começaram a pedir-nos para o fazer», salienta. A longo prazo, esperam alargar o projeto ao resto do território nacional e estão, desde já, recetivos a receber propostas de colaboração para expansão.
«Para quem tem interesse em saber mais e participar no projeto, disponibilizamos o Formulário Embaixador de Gigantes Verdes. Esta é uma oportunidade para participar no mapeamento de árvores de grande porte, receber formação especializada e ter acesso ao nosso mapa partilhado, onde é possível marcar as árvores no dia a dia.» O objetivo passa por instruir pelo menos 100 embaixadores, dinamizar três caminhadas abertas ao público em cada concelho e assim mapear cerca de 7500 Gigantes Verdes durante doze meses.
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COMO PARTICIPAR NO PROJETO?
Pode ser voluntário e ter verdadeiro impacto em projetos de conservação da natureza, não só com as horas despendidas em prol da causa, mas pelo envolvimento social e cooperação que se cria nestas iniciativas.
Voluntariado corporativo
Dias dedicados de voluntariado para grupos de colaboradores de empresas ou outras organizações parceiras. Eventos de teambuilding que incluem atividades de restauro ecológico e em prol da beneficiação da biodiversidade.
Dias verdes
Aos sábados de manhã e com a periodicidade quinzenal, pode juntar-se à VERDE e participar nos dias de voluntariado ambiental abertos à comunidade, e ajudar na plantação de árvores e arbustos nativos, controlo de plantas exóticas e invasoras, construção de charcos ou outros abrigos para a biodiversidade e limpeza de rios e ribeiras.
Horas verdes
É para todos os que querem aproveitar as suas folgas, dias livres ou até períodos entre trabalhos ou cursos para conhecer novas pessoas e aproveitar para ajudar a implementar ações de restauro ecológico e valorização ambiental.
Voluntariado de longa duração
Para uma experiência imersiva em conservação da natureza, a VERDE pode receber, em simultâneo, até quatro voluntários de longa duração. Com um período mínimo de quatro semanas, poder ficar alojado gratuitamente em Lousada, num apartamento com quartos partilhados, e participar ativamente nas tarefas de campo e nos projetos da VERDE.
Projetos curriculares ou teses
Para quem pretende desenvolver um projeto curricular na área ambiental. Poderá ficar alojado no apartamento em Lousada dedicado a voluntários enquanto desenvolve o seu projeto.
Para saber mais
https://www.verde-associacao.pt/
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SER GUARDIÃO DE GIGANTES VERDES
A VERDE criou um ecossistema que está a ser implementado no concelho de Lousada, no norte de Portugal, e convida cidadãos e organizações, conscientes da sua pegada ecológica, a compensá-la contribuindo para a preservação e plantação da biodiversidade florestal em Portugal, tornando-se Guardiões de Gigantes.
Guardiões de Gigantes
Pessoas ou entidades coletivas privadas conscientes da sua pegada ecológica, que pretendem compensá-la contribuindo para a preservação e plantação da biodiversidade florestal em Portugal.
Gigantes Verdes
As árvores de grande porte e elevado valor ecológico que o Carbono Biodiverso pretende preservar, evitando que sejam abatidas.
Cuidadores de Gigantes
Proprietários, gestores ou arrendatários de propriedades com árvores de grande porte que se juntam à VERDE com a missão de as preservar.
Restauro Ecológico
Plantação de árvores jovens nativas e intervenções no território para restaurar ou preservar habitats.
VERDE
Associação que pretende evitar o contínuo abate de Gigantes Verdes e intervir no território para a preservação da biodiversidade em seu redor, fazendo a ponte entre Gigantes Verdes, guardiões, cuidadores de gigantes e promovendo o restauro ecológico dos territórios.
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