ACALME-SE (PELA SUA SAÚDE)

ACALME-SE (pela sua saúde)


Oito razões convincentes pelas quais o seu corpo lhe pede que reduza o stress. 


Rosemary Counter 



Dói me o maxilar. Grande coisa, certo? Certo... pelo menos no início: começa com um prazo iminente ou uma discussão conjugal, mas a tensão leva a apertar o maxilar e depois à dor. Rapidamente passa para dor ao mastigar, e por isso os níveis de açúcar no sangue baixam a pique e a cabeça começa a latejar. Cancelo os planos de fazer exercício ou um encontro de amigos e depressa fico mal-humorado. É impossível ter uma boa noite de sono. Viro-me de um lado para o outro na cama e cerro ainda mais os dentes, e no dia seguinte começa tudo de novo. 

Mesmo a mais pequena semente de stress pode transformar-se numa montanha de sintomas debilitantes. Não falo apenas de ansiedade, irritabilidade ou depressão (embora isso também possa acontecer). Falo de ficar fisicamente doente, desde as células estaminais que morrem e provocam cãs prematuras até à redução do fluxo sanguíneo nos dedos dos pés (a sério, a sensação de «formigamento nos pés» é comum antes e depois de um ataque de pânico).

Se precisa de um motivo para respirar, aqui estão oito maneiras pelas quais o stress pode estar a afetar, neste preciso instante, o seu corpo.


O Seu Cérebro: Primeiro que tudo, vamos definir o stress. «O stress é um estado de preocupação causado por um gatilho externo», explica Krystal Lewis, psicóloga clínica em Maryland, no Instituto Nacional de Saúde Mental. Pode ser de curto prazo e agudo (como correr para sair de casa a tempo para o trabalho) ou de longo prazo e crónico (como ter uma carreira agitada).

Idealmente, o stress é agudo e a pessoa recupera assim que para. Na realidade, se for como três quartos dos americanos que relatam que o stress lhes afeta negativamente a vida, o mais provável é que o seu stress seja crónico.


De qualquer modo, a amígdala do cérebro entra em alerta máximo, fazendo com que o hipotálamo liberte um fluxo químico de cortisol, adrenalina e norepinefrina. Há centenas de milhares de anos isso poderia tê-lo ajudado a fugir de um tigre-dentes-de-sabre. É menos útil hoje, quando tem uma resposta do tamanho de um tigre por estar atrasado.


«Seja como for, porque está numa situação que não pode controlar ou não consegue gerir, o seu cérebro liberta uma torrente de hormonas para o ajudar a lidar com ela», diz Krystal Lewis.


Essas hormonas podem destruir os neurónios, em particular os recém-formados, levando à atrofia cerebral, encolhimento ou danos no córtex pré-frontal – uma área do cérebro essencial para a função cognitiva, concentração e formação da memória. 



«O QUE QUER QUE LHE ACONTEÇA EM TERMOS EMOCIONAIS, O INTESTINO SABE-O E SENTE-O.»



A sua Cabeça, queixoe Ombros: O primeiro lugar onde pode realmente sentir o stress a instalar-se é aquilo a que os especialistas chamam «triângulo de tensão». «Quando está em stress e o corpo está no modo ativo de luta ou fuga, os músculos contraem-se para se preparar para o proteger», afirma Krystal Lewis.


Se permanecer muito tempo nesse estado – como manter-se em posição de prancha no ginásio –, rapidamente começa a sentir fadiga e tensão muscular. Cerrar inconscientemente os dentes pode dar origem ao ranger dos dentes ou piorar esse hábito, à disfunção da articulação temporomandibular (ou ATM) ou a uma sensação desagradável chamada «globus» que dificulta e torna desconfortável engolir.

Já se apercebeu daquela dor de cabeça que surge invariavelmente à sexta-feira à noite após uma semana difícil? Ela ocorre porque, à medida que as hormonas do stress da semana diminuem, os vasos sanguíneos dilatam-se (a «vasodilatação», associada há muito a enxaquecas) e você dá por si no reino das dores de cabeça.


O seu Intestino: O stress parece «revirar as entranhas» ou «causar desconforto intestinal» porque o cérebro e os intestinos estão tão intrinsecamente ligados que os cientistas têm um nome para isso: a ligação mente-intestino. Refere-se aos milhões de neurónios que trocam mensagens ao longo do nervo vago (uma espécie de cabo grosso que vai do cérebro ao intestino).

«Tudo o que aconteça a nível emocional, o intestino sabe e sente», explica o Dr. Emeran Mayer, gastroenterologista e autor de A Ligação Mente-Intestino. «O intestino é o habitat de micróbios, e qualquer coisa que muda o habitat afeta os micróbios, que precisam de se adaptar.» Desequilibrá-los pode dar origem a estragos ao nível da digestão e da imunidade.


Além disso, o stress pode causar alterações na secreção de fluidos, no tempo que os alimentos demoram a passar e na permeabilidade dos intestinos, chamada fuga, onde moléculas potencialmente tóxicas dos alimentos não digeridos se infiltram na parede intestinal e passam para o corpo e a corrente sanguínea. O corpo reage a essas moléculas fora do lugar como faz com todos os invasores estranhos, refere o Dr. Mayer: através de uma ligeira inflamação no sistema imunológico.


Enquanto isso, o stress aumenta a produção de ácido e retarda o esvaziamento do estômago, levando ao refluxo ácido (azia) ou à síndrome do intestino irritável (SII). E qualquer dor gastrointestinal que exista vai doer mais: «Quando se está em stress, todos os nervos sensoriais ficam mais sensíveis», explica o Dr. Mayer.


O seu Coração: Quando se trata do coração, o stress de curto prazo atrai toda a atenção. O muito romântico «síndroma do coração partido» (também conhecido como cardiomiopatia do stress) pode ocorrer quando uma pessoa está sob stress agudo, seja emocional (como luto ou medo) ou físico (como uma febre alta ou uma convulsão).

Em alguns casos, a liberação repentina de hormonas como a adrenalina pode estreitar as pequenas artérias no coração, diminuindo temporariamente o fluxo sanguíneo para o órgão. «Pode ter palpitações, hiperventilar ou até desmaiar se não receber oxigénio suficiente», diz Patrice Lindsay, diretora da Heart and Stroke Foundation do Canadá.

Os efeitos do stress de curto prazo são imediatos e palpáveis, mas há uma razão pela qual o stress crónico, mais insidioso, é designado «assassino silencioso». «O stress causa todo o tipo de estragos no coração», diz Patrice Lindsay, entre os quais aumento da frequência cardíaca, arritmias (batimento cardíaco irregular) e vasoconstrição excessiva – quando os vasos sanguíneos se contraem, o oposto da vasodilatação e aquilo que provoca o formigueiro nos dedos dos pés.


O maior efeito, no entanto, é este: viver constantemente em stress aumenta a tensão arterial – o principal fator de risco para doenças cardíacas e enfartes. Um em cada quatro adultos em todo o mundo tem hipertensão, que endurece e danifica as artérias, diminui o fluxo sanguíneo e de oxigénio e aumenta o risco de coágulos sanguíneos.


Os seus Pulmões: No inverno é amaldiçoado com constipações aparentemente intermináveis? Uma causa possível são os elevados níveis de stress que lhe drenam os recursos do corpo. «O cortisol aumentado enfraquece o sistema imunitário, tornando-o menos eficaz na luta contra os vírus que causam constipações e gripe», diz a fisiatra Laura Ginesi, membro da International Stress Management Association do Reino Unido.

Entre muitas interações complexas entre o stress e o sistema imunitário há este golpe duplo: o stress reduz os linfócitos, que é o nosso exército de glóbulos brancos, frequentemente chamados «assassinos naturais», forçando aqueles que sobram a trabalhar mais para responder a qualquer inflamação que esteja a atacar o sistema imunitário.


A suaPele: Se já ficou corado de vergonha ou começou a suar durante um exame, sabe que a pele, o maior órgão do corpo, reage quase instantaneamente ao cortisol induzido pelo stress.


«O stress de curto prazo, como sentir ansiedade antes de uma apresentação, pode causar problemas temporários como vermelhidão, comichão e transpiração», resume a Dra. Alia Ahmed, psicodermatologista no Reino Unido, especialista na interação entre a mente e a pele. O cortisol também estimula a produção de sebo (óleo), razão pela qual podem aparecer borbulhas na véspera do casamento. Todas essas reações são, felizmente, passageiras, mas não os efeitos a longo prazo.


«O stress provoca inflamação, que está relacionada com o agravamento de patologias preexistentes como eczema, psoríase e rosácea», diz a Dra. Ahmed. Mesmo as pessoas com uma tez impecável podem sofrer com pele seca, escamosa e comichão quando estão sob stress. À medida que os níveis de cortisol aumentam os de colagénio diminuem, provocando rugas, pigmentação, sinais de envelhecimento prematuro e opacidade da pele. Além disso, as pessoas em stress dormem menos, alimentam-se pior e muitas vezes estão desidratadas – todos estes fatores afetam a saúde da pele. 


O seu Sistema Reprodutor: Alguma vez chegou a casa ansioso por romance depois de um dia terrível? O mais certo é que isso nunca tenha acontecido. «Imagine-se a manter o punho cerrado o dia todo e, às 20h00, abri-lo para pegar num garfo», diz a Dra. Uchenna Ossai, fisioterapeuta e educadora sexual em Austin, no Texas. «Sentirá desconforto na mão, e o mesmo é verdade para o seu corpo.» Os níveis cronicamente elevados de cortisol têm efeitos demonstráveis nas hormonas sexuais. Nas mulheres, o hipotálamo, que normalmente diz à glândula pituitária para produzir o estrogénio e progesterona que dão origem à menstruação, está demasiado ocupado a gerir o cortisol. Isso pode dar origem a períodos irregulares ou mesmo verificar-se a sua ausência, diminuição da ovulação e fertilidade reduzida. Nos homens, os níveis cronicamente elevados de stress inibem a produção de testosterona, o que pode causar contagem reduzida de espermatozoides, disfunção erétil e impotência. 


Os seus Músculos e Articulações: As dores nas costas são comuns durante as alturas de stress, mas os braços, pernas, mãos e pés também podem ser afetados. Como é que isso acontece cientificamente? «A inflamação leva o sangue para a área para limpar qualquer dano ou detrito», explica a fisioterapeuta Laura Ginesi. Quando o cérebro percebe a dor, seja porque cortou o polegar ou continua a cerrar os dentes, tenta reparar os danos. «O stress faz com que os neutrófilos – glóbulos brancos que participam na resposta inflamatória – se tornem mais ativos para curar o tecido.» Como com o polegar a sangrar, isso pode acionar impulsos nervosos que podem dar origem ao desconforto físico. «A inflamação causa vermelhidão, desconforto, inchaço e dor», diz Laura Ginesi. A inflamação crónica pode manifestar-se sob a forma de rigidez nas articulações, tendinite ou dor e desconforto. Sem tratamento, pode provocar cicatrizes irreversíveis (fibrose), danos no ADN e, como afeta a forma como as células crescem e se dividem, mutações que podem dar origem a tumores ou cancro. 




«PODE NEUTRALIZAR OS EFEITOS NOCIVOS COM TRUQUES SIMPLES PARA REDUZIR O STRESS.»



Que o stress pode matar é um pensamento aterrorizante, a menos que o inverta: «Pode neutralizar tudo isso com alguns truques simples para reduzir o stress», aconselha Laura Ginesi. Para mim são aulas de ioga, meditar dez minutos de manhã e fazer uma massagem por mês. Para si pode ser algo ainda mais fácil: estudos comprovam que apenas fechar os olhos e respirar profundamente pode ajudar a reduzir e regular o nível de cortisol – onde quer que esteja, agora mesmo e de graça. 


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