Vai para os Passadiços? Só tem de descer a encosta até à praia lá em baixo. Siga o caminho que está marcado com os troncos de madeira.» A informação é dada por um funcionário da Câmara Municipal de Arouca, no parque de estacionamento do Areínho. E, tal como dezenas de outros turistas, seguimos a indicação. O caminho é íngreme e sinuoso por entre árvores e algumas rochas, e é preciso ter cuidado para não escorregar no cascalho solto. O acesso termina à entrada da Praia Fluvial do Areínho e do café que serve de ponto de partida para os que se aventuram nos Passadiços do Paiva até à falha da Espiunca.
O turista também pode optar por fazer o percurso no sentido inverso, iniciando a caminhada na entrada da Espiunca e terminando no Areínho.
Após uns momentos de pausa – para encher as garrafas de água, acondicionar melhor as pequenas mochilas onde se levam víveres para o caminho – partimos por um troço de terra batida que nos leva à ponte de Alvarenga, na Garganta do Paiva, um dos cinco geossítios do percurso.
É aqui que começa a aventura, com um troço inicial de escadas íngremes que serpenteiam a encosta em altura. Um aviso afixado numa placa informa que já não há bilhetes disponíveis. Os Passadiços estão esgotados! Fizemos bem em termos comprado os bilhetes com antecedência na Internet, até porque existe um limite máximo de 2 mil visitantes por dia.
Os turistas cruzam-se nas escadas, uns em melhor forma do que os outros, e vão parando para descansar e observar a beleza da paisagem. Os que seguem no sentido descendente animam os que sobem, às vezes com algum humor à mistura: «Calma, está quase, já só faltam 3 mil degraus até lá acima», atira para o ar um visitante bem-disposto. Não serão 3 mil degraus, de facto, mas para quem está a começar o passeio o troço inicial do Areínho é uma prova à resiliência dos visitantes.
Inaugurados em junho de 2015, os Passadiços do Paiva estendem-se ao longo de oito quilómetros e meio (um pouco mais se contarmos os acessos) e permitem percorrer o vale do rio Paiva que só estava acessível para quem se aventurasse em caminhadas montanha dentro ou entrasse no rio para praticar rafting e se deixasse levar nos rápidos. Em 2013, e recorrendo a fundos comunitários, a Câmara Municipal de Arouca iniciou o projecto de construção do empreendimento que liga Espiunca e o Areínho ao longo da margem esquerda do rio Paiva, um investimento total de 2 milhões de euros.
A abertura ao público aconteceu em junho de 2015. E nos primeiros dois meses e meio receberam mais de 200 mil visitantes.
Muitos arouquenses atribuem a ideia deste empreendimento a Margarida Belém, atual presidente da Câmara Municipal de Arouca, e que à época era vereadora com o pelouro da Cultura e Turismo. À Selecções do Reader’s Digest, a autarca recusa a ideia de paternidade do projeto: «O empreendimento dos Passadiços é fruto do trabalho de uma equipa alargada de gente e de entidades, não dependeu de uma só pessoa. Se alguém pode ser considerado o impulsionador é o anterior presidente da Câmara, o engenheiro Artur Neves, que acreditou na ideia e concretizou-a apesar de todas as resistências e contrariedades. E deve-se ao trabalho de muita gente, desde a equipa do Arouca Geopark à equipa de planeamento, turismo, à CCDR, ao Instituto da Conservação da Natureza e Florestas. Só em equipa é que se consegue fazer tudo isto.»
Cedo se percebeu que os Passadiços iriam ser um sucesso. Mas em setembro de 2015 um incêndio florestal destruiu um troço com cerca de 600 metros de passadiço, o que levou ao encerramento de todo o percurso. Cinco meses depois, em fevereiro de 2016, reabriram em todo o seu esplendor e com várias melhorias: uma nova escadaria que liga a ponte de Alvarenga até ao alto da Garganta do Paiva, com 200 metros de altura, que permitiu encurtar a distância de subida e ao mesmo tempo melhorar a contemplação da paisagem. Foram colocadas casas de banho a meio do percurso, na praia do Vau, e aumentadas as zonas de estacionamento. Ao mesmo tempo, a entrada passou a ser limitada e paga.
A primeira etapa de subida, apesar de difícil, fez-se em pouco mais de meia hora, com algumas paragens para recuperar o fôlego e admirar a paisagem. É no topo da Garganta do Paiva que se encontra o controlo de entradas e se mostram os bilhetes. E se entra verdadeiramente nos Passadiços. É também aí que se encontram dois miradouros onde os visitantes conseguem ter uma ideia da beleza do vale do Paiva e da grandiosidade deste empreendimento.
Um pouco mais acima deste ponto, já está em fase final de construção a 516 Arouca, nada mais nada menos que a maior ponte suspensa pedonal do mundo, um investimento total que ronda 1,7 milhões de euros. A inauguração da ponte está prevista para o último trimestre deste ano. Na paisagem sobressaem os dois pórticos com 35,5 metros de altura que irão segurar a ponte metálica, com 516 metros de comprimento e 1,2 de largura, que ficará a 175 metros de altura do rio Paiva.
O acesso será pago mas o valor não está definido.
Nos planos da Câmara de Arouca não está prevista a ampliação da extensão dos Passadiços, mas antes fazer com que os turistas que os visitem se deixem seduzir por outros locais e conheçam mais da variada oferta cultural e paisagística de Arouca: «Os Passadiços são uma atração nacional e internacional, que traz a Arouca milhares de pessoas. Mas é uma linha a partir da qual queremos que o visitante parta para conhecer outros sítios do Geopark e do nosso concelho. E apostamos, isso sim, em ligações, em conexões que permitam essa mobilidade, que possam, por exemplo, conhecer as minas de volfrâmio ou descobrir a Serra da Freita. Nesse sentido, a nova ponte suspensa, que permite a ligação a Alvarenga, é uma nova atração mas também uma nova ligação para que possam descobrir o território», explica Margarida Belém.
A edil de Arouca garante que o objetivo da autarquia passa por reforçar as estruturas existentes e aumentar a qualidade da oferta, apostando sempre num turismo de qualidade: «A oferta tem aumentado na área da hotelaria, vai nascer uma nova unidade hoteleira no mosteiro de Arouca que vai complementar a oferta existente, nomeadamente na área do alojamento local. Mas temos de ter sempre em mente a nossa capacidade de carga, a nossa capacidade de resposta. Nos Passadiços são 2 mil pessoas todos os dias, a nova ponte também vai ter um limite porque temos de manter a sustentabilidade e o equilíbrio, porque o que oferecemos é um turismo de natureza. Ao mesmo tempo, valorizamos as comunidades e o seu envolvimento nesta oferta. Daí que apostemos na geoedução, desde o pré-escolar, para envolver tanto a comunidade como os prestadores de serviços nesta área na preservação do ambiente e do território. As pessoas têm de perceber porque tem de ser preservado e os benefícios que podem tirar daí. Envolvemos os artesãos, agricultores, as empresas de animação turística, os restaurantes, todos neste espírito de pertença a um território e património. E tudo tem sido feito em benefício da comunidade», explica à Selecções do Reader’s Digest.
SERRA DA FREITA
Depois do primeiro impacto com a beleza da paisagem e com o fôlego recuperado retomamos o caminho que, a partir daqui, é quase sempre a descer e com muitas sombras retemperadoras. Mais ou menos a meio do percurso, somos surpreendidos com um local fantástico para descansar e fazer um piquenique, a praia do Vau. Uma zona de areal com bastante espaço e muita sombra. O local ideal para almoçar e dar uns belos mergulhos. Existe ainda uma cascata para os que não se assustam com a água mais fria. A praia tem ainda um pequeno quiosque onde se pode beber um café ou reabastecer de água.
Mesmo junto à praia está localizada a ponte suspensa, uma estrutura de madeira com cabos de aço e que faz a passagem para Alvarenga. A ponte também se tornou uma atração turística, e os visitantes fazem fila para ...
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