Pensamos nos miúdos a jogarem videojogos como uma espécie de confinamento solitário, sequestrados na escuridão dos seus quartos. Na verdade, normalmente estão a comunicar com outros jogadores, por áudio ou por texto, acerca da ação no ecrã. E por vezes a conversa passa do mundo de fantasia para a vida real.
Foi o que aconteceu a Howard Reilly, de 14 anos, de East Hampton, no Connecticut, em outubro passado. Quando jogava Counter-Strike: Global Offensive, reparou que um amigo on-line com 13 anos, da Florida, não estava com a sua habitual personalidade efusiva. O palpite de Howard confirmou-se quando o amigo lhe enviou por texto: «Oi, precisamos de falar.» Howard ligou-lhe de imediato.
«Ele começou a abrir-se sobre o que se passava na sua vida. “Não tenho razões para viver, vou-me matar”», disse Howard a nbcconnecticut.com. «Não conseguia sequer falar, de tanto que chorava.» Sem conseguir verbalizar a sua angústia, o amigo escreveu: «Esta noite vai ser a noite.»
O suicídio é um grande fardo para colocar sobre os ombros de um miúdo, mas Howard, na altura no nono ano, resolveu manter-se em linha enquanto fosse preciso. «Eu sabia que ele não queria estar sozinho e não queria deixá-lo ir», disse à WFSB. «É meu amigo. Não quero que morra.»
Durante duas horas, Howard disse tudo o que se lembrou para persuadir o amigo a escolher a vida. «Continuei a dar-lhe confiança: “Tens muito porque viver”», disse Howard. «Eu disse: “Vejo-te amanhã. Vou jogar contigo amanhã. Promete que não acontece nada hoje.»
Por essa altura, os pais de Howard, que tinham saído para jantar, chegaram a casa. Ele falou com eles e contactaram a polícia da Florida, que localizou o rapaz.
O adolescente perturbado agora está bem, graças a um bom amigo – que nunca conheceu pessoalmente – que estava disposto a pousar o teclado e a ouvi-lo. Segundo a mãe de Howard, Sheila Reilly: «Só temos de estar e falar com as pessoas. E ouvir.»