KATHARINE LAWES SABIA o que era a apneia do sono antes de passar uma noite num laboratório de sono. O seu irmão mais velho, um primo e uma amiga tinham todos recebido o mesmo diagnóstico. Por isso, quando foi de férias com a família há dois anos sabia a que se referia o filho quando ele lhe disse que ela passara a noite com falta de ar.
Katharine, uma canadiana a residir em Espanha, também sabia como a apneia do sono pode ser séria.
«Andamos cansados durante o dia, porque não dormimos. O corpo esteve a esforçar-se por nos manter vivos», lembra Katharine de ouvir ao irmão. «Quando acordamos de manhã estamos exaustos.»
É exatamente isso que acontece durante a apneia do sono, diz o Dr. F. Javier Puertas, diretor do Centro de Medicina do Sono no Hospital da Universidade La Ribera, em Alzira, Valência. Nas pessoas com apneia do sono, as vias respiratórias superiores estreitam-se, colapsam e cortam ou fecham o fornecimento de ar ao corpo durante o sono. Não raro, a falta de ar obriga muitas pessoas, primeiro, a ressonar e, depois, a arquejar e a acordar para restabelecerem uma respiração normal.
«Em alguns casos isso acontece centenas de vezes durante a noite», explica o Dr. Puertas. «O paciente não tem consciência de acordar. Normalmente isto dura apenas três ou cinco segundos, e no fim da noite só se lembra de que o sono não foi reparador.»
Nem todo o ressonar é apneia do sono, mas o ressonar muito sonoro, por causa das vias obstruídas, é por vezes um sinal. Outros sintomas: sonolência diurna, dores de cabeça matinais, pressão arterial elevada, e acordares abruptos ou períodos em que alguém reparou que você deixou de respirar.
A APNEIA DO SONO não tratada tem sido associada nomeadamente ao controlo da glicose, que pode levar à diabetes e a problemas cardiovasculares, como um risco aumentado de hipertensão. Existe também outro efeito potencialmente mortal da apneia do sono não tratada: os acidentes de trânsito causados por condutores sonolentos. Não se sabe exatamente quantos são estes acidentes, mas os peritos europeus em sono estimam-nos em cerca de 20%. Este número é suportado por uma sondagem feita no ano passado pela Sociedade Europeia de Investigação do Sono, que descobriu que um em cada cinco europeus disse já ter adormecido ao volante nos dois anos anteriores. Entre os que tinham adormecido, 7% afirmaram ter tido um acidente em resultado disso.
A preocupação com os acidentes levou a que o grupo de trabalho da Comissão Europeia em Apneia do Sono e Condução recomendasse que a União Europeia exija que os condutores com apneia do sono sejam obrigados a controlá-la, sob pena de perderem as cartas de condução. As boas notícias? «Foi demonstrado de forma clara que o tratamento eficaz da apneia do sono elimina o risco associado de acidentes no caso de veículos motorizados», resume o presidente do grupo de trabalho, Dr. Walter McNicholas, diretor da Unidade de Prolemas Pulmonares e do Sono no Hospital da Universidade de São Vicente, em Dublin.
HÁ 10 OU 20 ANOS, era possível não ter conhecimento da apneia do sono. Há duas décadas, apenas 4% dos homens e 2% das mulheres tinham a doença, mas estes números estão a aumentar, em parte porque mais pessoas têm fatores de risco como a obesidade, diz o Dr. McNicholas. Os fatores genéticos também contam. «Números na casa dos 5% a 10% são agora falados regularmente acerca da incidência prevalecente da apneia do sono significativa», diz. Isso traduz-se em algo entre 35 milhões e 70 milhões de europeus.
O aumento dos casos traz mais uma preocupação. «Atendendo a que o diagnóstico destas pessoas se faz monitorizando a sua respiração durante o sono, a logística é imensa», nota o Dr. McNicholas. Em resultado disso, uma boa parte da investigação concentra-se em formas de detetar fácil e eficazmente a apneia do sono, tanto em laboratório como em casa. Aparelhos que fiquem na mesa de cabeceira e detetem padrões de sono, ou monitores portáteis que possam rastrear o sono enquanto usados na cama, em casa, são duas soluções promissoras.
Hoje em dia, a maioria das pessoas precisa de passar uma noite num laboratório de sono para receber um diagnóstico. Muitos descobrem que não é um ambiente tão estranho como esperavam. «Pensei que ia ser difícil, mas adormeci imediatamente», diz Katharine. Diz que ajudou ter em conta que encontrar uma resposta para o seu problema seria uma coisa boa.
O tratamento é outra história. O tratamento provavelmente mais conhecido – e ao mesmo tempo mais comum e mais eficaz – hoje em dia é o CPAP, que significa pressão contínua positiva do ar. O sistema envolve uma pequena bomba de ar, um tubo e uma máscara que cobre o nariz (ou nariz e boca) durante o sono para suavemente dirigir o ar para as vias aéreas superiores.
A ideia de dormir com uma máscara para o resto da vida é certamente um desalento para alguns, diz o Dr. Puertas. «Digo aos meus pacientes que o CPAP é como usar óculos. Quando acordamos pomos os óculos. Da mesma forma, quando é hora de dormir, pomos o CPAP.»
Depois de algum tempo, alguma pessoas desenvolvem uma afeição pelo dispositivo. Segundo o Dr. McNicholas, «vão mesmo para a cama e aconchegam-se com a máscara de CPAP». Ele acredita que é a reação subconsciente do corpo por ser finalmente capaz de relaxar e ter noites descansadas depois de meses ou anos de apneia não tratada.
Ainda assim, um CPAP requer adaptação. Quando Katharine começou o tratamento, a máscara não se ajustava corretamente. A solução foi uma máscara mais pequena. E, mais tarde, quando achou que o ar em si era um pouco perturbador, pôde arranjar um acessório humidificador para a ajudar a respirar mais facilmente.
Por vezes adormece sem a máscara, ou tira-a a meio da noite – uma situação comum, diz o Dr. Puertas, mas depois de alguns dias sem CPAP, os sintomas todos da apneia do sono regressarão. Katharine nota a diferença nos dias depois de não usar CPAP durante as cerca de cinco horas recomendadas. Tem mais tendência a adormecer durante a tarde e não se sente tão ativa e de boa saúde nesses dias. Saber que um tratamento constante é essencial para a sua saúde convida-a a ser persistente, diz.
Os parceiros, mesmo os que a princípio estão reticentes, são também muitas vezes confortados pelo facto de o CPAP fazer um trabalho importante: em vez de recearem que o seu parceiro pare de respirar, sentem alívio, segundo o Dr. Puertas. Alguns parceiros queixam-se do ruído da máquina, e isso não é fácil de resolver. Mas o quarto está muitas vezes mais silencioso, porque há menos ressonar. «A maioria prefere o som uniforme – e normalmente baixo – do CPAP ao ressonar sonoro.» E ter um parceiro que dá apoio mostrou que ajuda as pessoas a manterem o CPAP, de acordo com um novo estudo.
Katharine foi de férias com amigos e família desde que começou o tratamento. Numa viagem, depois de tirar a máscara durante a noite, uma amiga acordou-a para lhe dizer que a pusesse de novo, porque estava a ressonar.
Katharine também espalha a palavra sobre a apneia do sono. Uma amiga com problemas de saúde, nomeadamente de coração, soube que podia ter apneia do sono, mas tinha medo de ir a um laboratório de sono. «Ela estava cheia de medo de fazer o teste», conta Katharine. «Quando lhe falei da gravidade do problema, ela foi e fez.» Depois de um mês com o seu novo CPAP, disse a Katharine que dormia muito mais, que estava desejosa dos resultados de mais uns exames que fizera ao coração.
Cada vez mais a apneia do sono traz pessoas aos consultórios dos seus médicos. «Leem sobre os riscos de ataque cardíaco e tromboses e sabem que a apneia do sono não tratada os deixa num risco consideravelmente maior de sofrerem essas complicações médicas mais sérias», explica o Dr. McNicholas. «E chegam mesmo a mostrar preocupação e a quererem ser examinados para a apneia do sono.»
Muitas pessoas surpreendem-se por se habituarem ao CPAP. «Antes do tratamento, dizem: “Oh, não vou conseguir dormir com essa coisa.” E é frequente ouvir esse comentário no meu consultório. Mas a realidade é que o toleram muito bem», diz, «e têm um enorme benefício».