Calcula-se que há apenas 3000 lobos em toda a península. O seu habitat é cada vez mais reduzido e persistem as ameaças à sua existência. É urgente harmonizar a sua proteção entre Portugal e Espanha.
«No último censo que foi feito tínhamos 300 lobos no território nacional. Mas agora não sabemos como estão as áreas onde havia lobos, e sabemos que há alcateias que despareceram.» A afirmação é do Professor Francisco Petrucci-Fonseca, presidente do Grupo Lobo, associação que tem como missão a preservação do lobo-ibérico e do seu ecossistema em Portugal.
A presença de lobos no território é ancestral, tal como ancestrais são os mitos e os medos da população em relação a este predador, o que levou a que fosse caçado de forma sistemática e ao seu desaparecimento de grande parte do território nacional. «No início do século XX os lobos ainda se distribuíam por quase todo o território continental português, nomeadamente a norte do Douro, em áreas de montanha desde o Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro e uma parte do Douro Litoral, e ainda em áreas da Beira Alta e até mais a sul. Temos registos de alcateias na serra de Grândola, e daí para o interior, nos anos 60 do século passado. Hoje, calcula-se que apenas há lobos em 20% dos seus territórios originais», explica à Selecções Francisco Fonseca.
O Grupo Lobo nasceu em 1985 – após a aprovação da lei que passou a proibir a permanência de lobos em cativeiro, por iniciativa de Francisco Petrucci-Fonseca, biólogo e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e de Robert Lyle, cidadão escocês defensor do meio ambiente, a quem se juntaram outras pessoas interessadas na conservação da natureza, em particular do lobo. A associação tem como missão a conservação do lobo e do seu ecossistema em Portugal, fomentar na opinião pública o interesse pelo lobo e pelas ciências que lhe respeitam e desenvolver esforços para estabelecer as condições legais,ecológicas e socioeconómicas indispensáveis a uma conservação efetiva da população lupina nacional. Uma missão cada vez mais urgente dadas as ameaças que os lobos enfrentam.
Dois anos após ter sido criado, o Grupo Lobo criou o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, na aldeia do Picão, em Mafra, onde recebem e cuidam de lobos que não podem regressar à vida selvagem: «Neste centro recebemos exemplares que foram encontrados feridos, estavam em cativeiro ou provêm de jardins zoológicos que têm excesso de animais. São animais que não podem viver em liberdade, ou porque nasceram em cativeiro ou porque já tiveram muito contacto com os humanos, o que inviabiliza a sua libertação», explica Francisco Petrucci-Fonseca.
O CRLI – Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, ocupa uma área de 18 hectares, paredes-meias com a Tapada de Mafra, onde vivem actualmente 13 lobos. Um espaço que foi crescendo à medida que começaram a ser solicitados para receberem mais exemplares deste predador: «Quando decidimos criar o CRLI tivemos a sorte de um casal inglês nos ter deixado utilizar uma pequena parte do seu terreno para nos instalarmos aqui no Picão. Ao longo do tempo, à medida que a nossa atividade foi crescendo e as nossas capacidades o permitiam, fomos comprando terrenos à volta até chegarmos à atual dimensão», explica o presidente do Grupo Lobo.
Quem chega ao CRLI depara-se com um enorme espaço verde, densamente arborizado, no qual sobressaem três construções de madeira onde funcionam a receção e loja do CRLI, as acomodações dos voluntários que trabalham no centro e uma área administrativa. O resto do espaço está ...
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