A PRINCÍPIO, AGNIESZKA OZIEBLO recusou-se a deixar que a dor no joelho direito a fizesse abrandar. A empregada de escritório, agora com 56 anos, continuou a fazer as suas atividades favoritas: caminhadas em passo rápido perto da sua casa em Varsóvia e caminhadas mais longas por trilhos de montanha sempre que podia. Mas, há cerca de 15 anos, o seu joelho gritou em protesto só por andar pela cidade. Foi de um médico para outro. Os raios X revelaram o seu diagnóstico: osteoartrite (OA), muitas vezes chamada simplesmente artrite, a mais comum das doenças das articulações.
Se alguma vez comeu uma perna de galinha, aquela camada que parece borracha, que vê cobrir a bola e a concavidade onde os ossos se tocam é, na realidade, cartilagem, muito semelhante à nossa. E é isso que fica danificado com a OA, normalmente depois de décadas de uso e desgaste, ou devido a uma lesão. Apesar de começar tipicamente na cartilagem, a OA não fica necessariamente por ali.
«Uma vez danificada a cartilagem, o osso que a suporta começa a sofrer danos», explica Philip Conaghan, professor de medicina musculosquelética na Universidade de Leeds e consultor médico da Arthritis Research UK. Como a cartilagem é lenta a regenerar, o osso cresce em vez dela, tentando preencher o espaço. E esta «reparação» agrava o problema.
Como se isso não fosse suficientemente mau, «não é a única fonte e causa de osteoartrite», resume o Dr. Eric J. Strauss do NYU-Hospital for Joint Diseases, em Nova Iorque. «É isso, combinado com a produção de enzimas inflamatórias na articulação.» Essas enzimas precipitam-se para a zona da lesão, onde destroem mais cartilagem. O ciclo repete-se, causando mais incapacidade à medida que progride.
Embora a OA possa afetar qualquer articulação, ela ocorre mais frequentemente nos joelhos, ancas, mãos e coluna. A doença é especialmente frequente em pessoas com mais de 50 anos – e cerca de metade de todas as pessoas com mais de 65 sofrem dela em algum grau. Mas também pode ocorrer em pessoas mais jovens, especialmente nas que carregam demasiado peso e esforçam as articulações. Perder peso, embora não possa parar a OA, muitas vezes reduz a dor das articulações sobrecarregadas.
Os genes, por vezes, desempenham um papel na OA. O sexo também, e as mulheres são mais suscetíveis. E as lesões de articulações que sofremos no desporto também podem favorecer a OA anos mais tarde.
Embora o exercício possa parecer a última coisa que quer fazer com articulações que doem, a verdade é que pode reduzir a dor em joelhos afetados e tornar mais fácil deslocar-se. Surpreendentemente, o exercício também é anti-inflamatório. Claro que, se tiver uma articulação dolorosa, apenas deve começar um regime de exercício com supervisão de um fisioterapeuta. E apesar de se dizer frequentemente que andar é um grande exercício, na OA pode não ser a melhor escolha, segundo o professor Conaghan, porque «não desenvolve os músculos assim tão bem».
Sugere, no entanto, «dar voltas a andar numa piscina», já que isso, ao contrário de passear ou caminhar, efetivamente faz crescer os músculos. Outros exercícios que podem ajudar incluem atividades sem pesos, como andar de bicicleta, fixa ou de estrada, ou usar equipamento de ginásio específico, como a elíptica.
Uma análise de 2011 de estudos anteriores mostrou que embora a fisioterapia possa melhorar os sintomas, não há provas de que possa parar o progresso da OA. Ainda assim, diz Stefan Lohmander, professor de cirurgia ortopédica na Universidade de Lund, na Suécia, pode ajudar a retardar a necessidade de tratamentos mais agressivos.
A fisioterapia ajudou a reduzir a dor no joelho de Agnieszka ao princípio. Por fim, no entanto, o progresso da OA ultrapassou os benefícios do exercício. Há cerca de cinco anos, o joelho esquerdo de Agnieszka também começou a doer.
«Fiquei com medo de ficar imobilizada de vez», diz.
Felizmente para ela, novos tratamentos trouxeram a promessa de melhores resultados. O seu médico fez uma cirurgia artroscópica no joelho para tentar reparar a cartilagem danificada. Mas não lhe «deu alívio». De facto, não estava entre os tratamentos recomendados por qualquer dos especialistas com que as Selecções falaram.
Então, em 2012, Agnieszka ouviu falar de um novo tratamento promissor para a OA: injeções de plasma rico em plaquetas (PRP). A cartilagem não se regenera imediatamente, e uma das razões é porque tem falta de fornecimento de sangue. As plaquetas do sangue são necessárias para sarar.
Os tratamentos de PRP são autólogos, no sentido em que é usado o sangue do próprio paciente. Os médicos separam as plaquetas e o plasma numa centrifugadora, e depois injetam o PRP resultante na articulação artrítica.
Agnieszka fez injeções de PRP em janeiro de 2012. Ainda que possam não funcionar para todos os pacientes, ela, finalmente, encontrou alívio. Durante mais de seis meses «não tive qualquer dor». Apesar de os sintomas voltarem gradualmente, Agnieszka não se sente desencorajada. Pondera fazer novo tratamento de PRP.
Marja-Liisa Tapaninen de Suonenjoki, Finlândia, agora com 64 anos, sempre foi ativa. Caminhar, esquiar, dançar – adorava isso tudo. Mesmo depois de um dia inteiro de trabalho como prestadora de cuidados ao domicílio, arranjava tempo para ir ao ginásio.
Quando o joelho direito começou a doer, não mudou de rotina. Mas pouco depois, a OA atingiu-lhe também o joelho esquerdo. Em 2007, ambos os joelhos davam tantas dores que teve de desistir dos passeios ao serão.
A fisioterapia não trouxe grande alívio. «Levei injeções de ácido hialurónico em ambos os joelhos, mas sem resultados», diz Marja-Liisa. Os médicos recomendam muitas vezes injeções deste componente natural do fluido articular, ou de corticosteroides. Embora cada pessoa responda de forma diferente, as injeções de esteroides normalmente reduzem os sintomas durante um mês ou dois. Os efeitos do ácido hialurónico podem durar mais tempo.
Em 2011, as dores de Marja-Liisa tinham-se tornado insuportáveis. «Tinha de usar muletas.» Começou a explorar opções mais radicais.
Em novembro de 2011, colocou próteses em ambos os joelhos. «Comecei a caminhar com apoio logo no dia seguinte à operação, e o meu joelho esquerdo ficou imediatamente melhor.» O direito estava fraco e precisou de cirurgia adicional, mas um ano depois Marja-Liisa estava, no mínimo, mais ativa do que antes. Agora, reformada, faz grandes caminhadas, esquia, vai dançar com o marido e até tem aulas de zumba. A fazer de novo fisioterapia para manter os músculos fortes, Marja-Liisa diz que é extremamente feliz. «Vivo o melhor período da minha vida. E posso fazer todo o exercício que quiser.»
Novas técnicas tornam possível aos pacientes usarem as novas articulações logo a seguir à cirurgia. Mas as articulações artificiais não duram para sempre, por isso os médicos muitas vezes atrasam essas cirurgias, especialmente em pessoas mais novas, até que sejam absolutamente necessárias.
«Fomos capazes de reduzir a idade em que dizemos que é seguro ter esta cirurgia», diz o Dr. Shearwood McClelland, diretor de cirurgia ortopédica no Hospital de Harlem, Nova Iorque. Para alguns, as próteses podem durar «20, 25 ou 30 anos». As ancas artificiais duram por norma mais do que os joelhos. Mas, diz o Dr. McClelland, a cirurgia deve ser a última alternativa.
Três tratamentos atualmente em desenvolvimento oferecem esperança para o futuro.
Células estaminais: Tal como o PRP, as células são retiradas do próprio corpo, normalmente da medula óssea ou do tecido gordo. Em estudos – o tratamento por células estaminais ainda não foi aperfeiçoado ou aprovado –, estas células parecem «travar a reação inflamatória do corpo», diz o Dr. Strauss. «Também têm o potencial de bloquear danos futuros e regenerar cartilagem nova.» Mas o professor Lohmander avisa que clínicos sem escrúpulos já anunciam tratamentos não testados usando células estaminais. «As provas de que este tratamento é eficaz são praticamente inexistentes», sublinha. Os perigos de infeções e outras complicações em estabelecimentos não regulados, no entanto, são muito reais.
Engenharia biomédica de nova cartilagem: «Antevejo um tempo em que não substituiremos uma articulação inteira», diz o Dr. McClelland. Em vez disso vê cirurgiões num futuro não muito distante a transplantarem nova cartilagem que é cultivada em laboratório usando as células do paciente. Embora ainda ninguém tenha aperfeiçoado cartilagem de bioengenharia que possa aderir ao osso natural e aguentar o esforço que colocamos nas articulações, diversas instituições de investigação estão a trabalhar para a desenvolver.
Medicina personalizada: A investigação do Dr. Strauss nesta área foca-se na prevenção do desenvolvimento da OA depois de uma lesão num ligamento – a faixa de tecido resistente mantém a articulação no lugar. Mesmo quando o ligamento é tratado com êxito, «10 ou 20 anos mais tarde, cerca de 60% ou 70% das pessoas desenvolvem artrite», diz o Dr. Strauss. Se houver algum desequilíbrio no coquetel de enzimas que o corpo envia para a lesão, ele pode danificar a cartilagem. O desequilíbrio pode ser diferente em cada doente, mas uma vez identificado, diz, os médicos devem poder corrigi-lo e parar a OA antes de aparecer.
QUANTO MAIS VELHOS, maior o risco, mas as pessoas com OA têm hoje uma série de boas opções de tratamento disponíveis. E ainda melhores poderão estar já ao virar da esquina.